Article

“Hagamos mundo nuevo aquí”: O negro e o vilão em dois textos de Gil Vicente

Author
  • Simão Valente (Universidade de Lisboa)

Abstract

Este ensaio compara Fernando, o homem negro que procura transformar-se em branco, sem sucesso, em Frágua d’Amor, com o rústico português em Templo de Apolo. A diferença de linguagem e estrato social das duas personagens exclui-as à partida do contexto galante e cortesão em que a maioria das outras personagens opera, algo de especial importância se lermos nestes dois textos alegorias da recriação ou refundação de “novas" comunidades políticas num contexto europeu, por ocasião dos matrimónios e alianças entre Avis e Habsburgo na década de 1520. A diferença cultural associada à cor da pele de Fernando exclui-o liminarmente dessa nova comunidade, sendo que o rústico consegue obrigar os corteses falantes de castelhano em Templo de Apolo a aceitá-lo nos seus termos, se não falando a sua língua, pelo menos adoptando os seus costumes, dançando uma folia portuguesa no fim do espectáculo. Adoptando uma hipótese de Hélio Alves (2018), uma breve comparação com Masque of Blackness de Ben Jonson aprofunda a leitura sugerida.

This paper compares Fernando, the Black man who unsuccessfully attempts to become white in Frágua d’Amor, with the Portuguese rustic in Templo de Apolo, two plays by Gil Vicente. The difference in language and social status of the two characters excludes them from the gallant and courtly context in which most other characters in the two plays operate. This is of special importance if we read in these two texts allegories of the recreation and refoundation of “new” political communities in the European context, through the matrimonies and alliances between the houses of Avis and Hapsburg in the 1520s. The association of cultural difference to Fernando’s skin color excludes him completely from a new community, whereas the white rustic is able to force courteous Castilian speakers to accept him in his terms by adopting his customs, if not his language, through dancing a Portuguese folia by the end of Templo de Apolo. Adopting a hypothesis raised by Hélio Alves (2018), this paper also establishes links with Ben Jonson’s The Masque of Blackness (1605).

Keywords: Gil Vicente, Ben Johnson, Teatro do Renascimento, Raça, História Cultural, Renaissance Drama, Race, Cultural History

How to Cite:

Valente, S., (2022) ““Hagamos mundo nuevo aquí”: O negro e o vilão em dois textos de Gil Vicente”, Portuguese Cultural Studies 7(2). doi: https://doi.org/10.7275/wfz9-he90

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Published on
04 Feb 2022